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O espetáculo de circo

por Barcellos De Oliveira, Maria Eduarda, Seus, Nataniele, Silva, Chaiane

Universidade Federal de Pelotas

Resumen:

O documentário Circo É Circo apresenta a riqueza e diversidade do universo circense, destacando sua transformação ao longo do tempo. A obra inicia com cenas de apresentações e depoimentos de artistas que definem o circo como rua, lona, picadeiro, risco e arte. Mostra-se a seriedade dos profissionais e como o circo revela o potencial humano, despertando admiração e emoção. São abordadas diferentes categorias circenses: o tradicional, passado entre gerações; o itinerante, que acolhe artistas fascinados pelo espetáculo; e o contemporâneo, fortalecido pelas escolas de circo e suas diversas expressões. A originalidade é exaltada no circo, copiar é considerado um erro. Cada artista é insubstituível, o que reforça o caráter único de cada apresentação. O risco físico, inerente ao espetáculo, é visto como essência do circo e o diferencia de outras artes. O palhaço é valorizado como figura central e verdadeira representação cênica do humor e da emoção. O documentário evidencia o circo como uma forma de vida e expressão artística que rompe barreiras, une tradição e inovação, e ocupa um papel cultural relevante na sociedade. Com isso, destaca-se como um espaço de resistência, transformação e beleza, onde o extraordinário acontece por meio do humano.

Palabras Clave: circo | itinerância | lona | picadeiro

The Circus Show

Abstract:

The documentary Circo É Circo presents the richness and diversity of the circus world, highlighting its transformation over time. It begins with performance scenes and artist testimonials that define the circus as street, tent, ring, risk, and art. The professionalism and human potential revealed through the circus evoke admiration and emotion. Different circus categories are explored: the traditional, passed down through generations; the itinerant, which welcomes artists fascinated by the show; and the contemporary, strengthened by circus schools and their diverse expressions. Originality is exalted—copying is seen as a mistake. Each artist is irreplaceable, reinforcing the uniqueness of every performance. Physical risk, inherent to the spectacle, is considered the circus’s essence and what sets it apart from other art forms. The clown is highlighted as a central figure and true theatrical representation of humor and emotion. The documentary portrays the circus as a way of life and artistic expression that breaks boundaries, merges tradition with innovation, and holds a significant cultural role in society. It stands out as a space of resistance, transformation, and beauty, where the extraordinary happens through the human.

Keywords: circus | traveling | tent | ring


O espetáculo de circo

O documentário Circo é Circo, dirigido por Daniela Cucchiarelli, conta com a participação de artistas como Lu Lopes (Palhaça Rubra), Marco Bortoleto (professor e pesquisador), Raquel Rache, Zezo de Oliveira (professor), e Erica Stoppel (artista do circo Zanni), Leandro Mendoza (artista e diretor Cia Cíclicus), Rodrigo Matheus (artista e diretor Circo mínimo), Jorge Lix (artista/erva daninha), Henry Agger e Louise Bjurholm, Felicity Simpson (diretora e produtora da circolombia), Kiko Caldas (artista e diretora cia K), Tanja Haupt (musicista cia cíclicus), Gustavo Quinones (artista circolombia), Marco Bortoleto (professor e pesquisador), Ermínia Silva (historiadora e pesquisadora), Matias Salmenaho (artista circus circor), Lars Wassrin (CEO do circo cirkor) e Roberto Magro (diretor La Central del Circ).

O documentário é circo inicia com algumas imagens de apresentações de circo, em seguida artistas discordam sobre o assunto circo. Então o documentário apresenta um pouco sobre a história do circo. Nesse contexto alguns artistas do documentário nos trazem a reflexão sobre uma mudança muito significativa na história do circo. Abertura do documentário que mostra através de uma animação o que é o circo, e segundo eles circo é rua… circo é… linguagem circo é… itinerância circo é… lona circo é… picadeiro circo é… risco circo é… palco e por fim circo é circo.

A primeira cena do documentário é mostrando os artistas no ensaio para um espetáculo além de percebermos também a seriedade que eles têm com o trabalho que estão executando. Palhaça Rubra, comenta sobre como o circo mobiliza nas pessoas, a dimensão da potência humana, e que como as pessoas que entram dentro de um circo se dão conta que o ser humano é um super herói, com super potências que muitas vezes são mal aproveitadas. O circo é uma produção independente construída, muitas vezes associada a partir do estereótipo de lona, ??e os artistas nômades, aqui como Ermínia Silva (historiadora e pesquisadora) “porque a um período durante muito tempo que os circenses fazem a opção da itinerância pelo toldo, por isso que a uma produção de memória, que circo é esse nomadismo e é lona” como se a produção se resumisse a isso.

Quando na verdade existem categorias como o circo tradicional, que são os circos passados entre famílias, de geração em geração, passados de pai para filho, que é popularmente chamado de “serragem nas veias” (Rocha, 2018), como também aqueles que é chamado popularmente de “beberam água do circo” (Aguiar; Carrieri, 2016), pois, são pessoas da cidade onde o circo itinerante passa, esse circo de lona, e essas pessoas se juntam ao circo, porém já possuem habilidades como uma bailarina, um palhaço, esses artistas vão se juntar ao circo simplesmente por ficarem fascinados pela apresentação, e assumem esse estilo de vida.

Existe também a categoria do circo contemporâneo, que é um circo mais novo, e que faz parte da nova geração pois, é construído também a partir de formação, com escolas de circo como mencionado na cena por Marco Bortoleto (professor e pesquisador), “o que tem definido o que é contemporâneo, e talvez distinguido um pouco essa realidade de agora com a de antes é o fato de nós termos escolas de circo” o que antes tradicionalmente não existia. Onde é aprendido sobre as técnicas, e histórias do circo, com referências de grandes nomes. Como é relatado por Roberto Magro, (diretor La Central del Circ), na cena que diz

“se falarmos de autores, de criadores de circo, vamos entender porque hoje em dia temos tantos circos diferentes. Cada autor quer desenvolver seu próprio circo. Quer desenvolver a sua visão particular do circo. Isso cria uma quantidade infinita de estética, infinita porque a quantidade é tão diferente quantas são as diferentes interpretações de cada autor sobre o circo”.

Ou o mesmo circo pode pertencer a ambas as categorias.

Mesmo não existindo uma referência, sendo que cada circo é exclusivo, e original, não há cópias, como mencionado na cena por Felicity Simpson (diretora e produtora do circolombia) “no circo o que é muito bonito, na diferença entre circo e teatro, é no circo você não tem direito de copiar. Copiar no circo é um pecado”. Cada circo vai ter sua própria forma, expressão cultural, e apresentações únicas, com artistas únicos, que não podem ser substituídos, pois faziam parte da “família” quando esses artistas por algum motivo saem da companhia, eles não são substituídos, e não vai existir outro artista que vá fazer sua mesma função, pois o palhaço é único com suas piadas, assim como o malabarista ou o atirador de facas.

O artista Henry Agger e sua colega Louise Bjurholm, mencionam em uma cena que “depende de o profissional decidir se algo é circo ou não” pois o circo é amplo, e vasto. O circo comunica o que tem de atual, podendo ser cinema, teatro, música, dança, dramaturgia é sobre arte, sobre comunicar suas expressões corporais. Como é defendido na cena por Roberto Magro, (diretor La Central del Circ), que diz

“perante uma obra, o que eu quero é a obra. Não quero saber se é dança, se é circo ou se é teatro… Nessa obra quero sempre que os autores levem o circo, ou a dança, ou o teatro, sempre mais longe. Para romper mais as barreiras”.

Essa questão de romper barreiras, também remete à questão de que o circo com o passar dos anos vem mudando, questões tradicionais, como por exemplo a criação de escolas de circo, o que no início não foi tão bem aceito entre os circenses, como mencionado na cena por Ermínia Silva (historiadora e pesquisadora) no documentário “certa traição por parte de alguns dos circenses, que se envolveram no início da criação das escolas no Brasil”. Aos poucos isso foi sendo aceito, mas ainda existe uma cultura de nascer no ambiente do circo, e ter essa tradição familiar, acaba que a maioria não tem escolha de fazer parte ou não do circo, o que é diferente de pessoas de fora, artista de fora que decidiu agregar, ou fazer parte das escolas de circo. E escolhem o circo como um estilo de vida, essas pessoas fora da linhagem também podem agregar para a criação de uma nova categoria de artistas de circo, o que talvez seja visto como algo arriscado.

O risco também é algo importante no circo, como indicado na cena por Leandro Mendoza (artista e diretor Cia Cíclicus): “sem risco o circo, não é circo”, verdade que seja isso que diferencia essas apresentações, e o espetáculo de outros, o comprometimento físico, e corporal que os artistas circenses correm de forma real, em cada espetáculo é o que dá vida ao circo, e o torna mágico, e repleto de fantasia, e ilusionismo. É essa desconexão do perigo, não tão comum na sociedade, entre certo e errado, perigoso e seguro. Como mencionado na cena por Felicity Simpson (diretora e produtora da circolombia), que diz “é a única forma de arte onde o artista coloca sua vida em alto risco, como ritual cotidiano”. Então, o circo tem como diferencial, sendo um dia “incomum” quando se vai ao circo, e encontra-se números tão arriscados, o que traz frustração para algumas pessoas, e certo conforto quando o número é executado corretamente. Mas em grande maioria, o circo é um ambiente de alegria e diversão.

É a questão de alegria e diversão, que entra o palhaço, que é a figura cômica, que diverte e direciona o picadeiro, na maioria das vezes visto como bobo com o nariz vermelho mas na verdade, como mencionado na cena por Roberto Magro (diretor La Central del Circ): “o palhaço é um ator de circo”, é isso que constitui o circo. Concluindo, destaca-se a cena mencionada por Matias Salmenaho (artista circus circor), “Hoje o circo é entretenimento através do ser humano”. O quanto essa cultura é importante, e agregadora na sociedade, é ver um dia de espetáculo para alguns, mas uma vida para outros. Uma vida cheia de experiências, e herança cultural, que é sobre arriscar todos os dias por algo que se acredita, é sobre construir e levar um picadeiro em diferentes lugares, cidades. É sobre transmitir, e comunicar suas expressões, e treinar e aperfeiçoar isso durante os anos, então o espaço que o circo circense ocupa, é um espaço cultural importante, que com o passar dos anos está se mudando.

Referencias:

Circo é circo. Direção: Daniela Cucchiarelli. [S.I.]: Palhaça Rubra, 2018. Documentário.

Zaim-De-Melo, Rogério; Bortoleto, Marco Antonio Coelho. A criança circense: as culturas da infância em um circo itinerante. Educação & Sociedade, Campinas, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1590/ES.280667. Acesso em: 04 jul. 2025.



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Message from Lílian Queiroz Cunha  » 31 de octubre de 2025 » lilian.queiroz.cunha@gmail.com 

Em primeiro lugar, saudações brasileiras aos autores do texto e á todos envolvidos com a produção do documentário sobre circo no Brasil. O interesse em escrever sobre essa temática surge em decorrência de um contexto propriamente brasileiro: a percepção da dificuldade do reconhecimento do circo enquanto linguagem própria dentro do país. Entre circo de lona, itinerante e contemporâneo, a produção textual e audiovisual destacam a incessante tentativa de firmar o circo como um lugar de compromisso, história e arte. A narrativa construída nos convida a pensar: o que define o circo? Em que lugar, no espaço, um circo pode ser considerado circo? Quão séria é essa brincadeira de ser circense? Seria o circo, afinal, uma bateria de originalidade? Sem lona, há circo? Com tecnologia, deixa de existir circo? O debate pode ser observado a partir de diversos pontos, carregando em si aspectos importantes sobre a linguagem circense em seus termos essenciais/tradicionais/fundamentais e, ao mesmo tempo, permite discussões sobre o fazer circense nos tempos atuais.

Técnica, tradição, trabalho, teimosia, tônus muscular, tecnologia, trapézio. Marginalização. Risco. Sobrehumano. Virtuosi (Lona família) O lugar dos sem lugar! Os que divertem a ‘’corte’’ e riem da condição humana.

Rua, violência, luta.

Quantos significados esses significantes podem assumir? Eu respondo! Contorção, acrobacia aérea, palhaçaria, equilíbrio, malabarismo.. o que você pode fazer? De fato, não importa se é dança, teatro ou circo. A linguagem se torce, desliza e substitui. Não esqueçamos nunca que o tecido acrobático surge de alguém que se imagina pendurado em uma cortina gigante. E que o palhaço se expõe na tentativa de dialogar com alguma viv’alma. ‘’Ao menos uma outra viv’alma que tenha voltado para casa igual a ele, perdido igual a ele’’. E a televisão, o abraço da lona com a tecnologia? o mundo deixou de ser só local. Pela primeira vez, o sertão via o litoral, e o povo via o mundo. O circo é um caminho ao impossível e por isso permite o desvio, contorna o que não se simboliza.

‘’Seja marginal, seja circense!’’ Está estampado na camisa de diversos circenses brasileiros espalhados pelo mundo como forma de identificação e resistência. É curioso ver o quanto essa pequena afirmação nos conta sobre a história do circo: com heranças romanas, o circo nasce em meio a brigas de gladiadores, apresentações com animais, arrastando as mais disformes aparências humanas e excêntricas capacidades com o corpo para o centro de uma arena, onde se separava a humanidade por classes sociais. Ao observar o efeito de Roma sobre a Grécia, é possível ver a passagem de narrativas ‘’intelectuais’’ caminharem com toda força em direção ao ‘’corpo’’, ou seja, a fala vem pelo corpo - endossamento da mímica, pantomima. O que isso implica no circo? O apreço pela técnica, virtuosi em circo e, para tanto, o caminho em direção ao máximo que um corpo consegue - o limite de articulações, de força, de tempo de equilíbrio, de manejo da maior quantidade de materiais, etc. Ultrapassar o limite é a brincadeira do circo. Esticar as capacidades humanas, ir além de nossa condição, experimentar uma certa ‘’sobrehumanidade’’. É também nesse ponto que o risco aparece: como ultrapassar limites sem morrer, adoecer ou se machucar? Como ultrapassar o limite da intelectualidade grega? Qual o risco de bancar uma arte sem a pretensão, necessariamente, de diálogos profundos? Pão e circo! O público na arena vendo humanos morrendo em brigas contra animais, o oferecimento de ‘’entretenimento’’ do governo para desviar a atenção de outros assuntos importantes para a ‘’pólis’’. Há algo mais profundo e humano do que a violência? Existe algo mais político do que aquilo que se diz apolítico?

O circo, no Brasil, tem pouca organização acadêmica e o incentivo governamental se mostra insuficiente para o desenvolvimento e sustento da linguagem enquanto própria. Os artistas do circo vivem o paradoxo de buscar afirmação, enquanto reconhecem a instabilidade da linguagem que os sustenta. A questão escorrega por diversos campos: sem essa ‘’organização formal’’, qual é a organização possível? Escolas de circo; circenses não como artistas, mas como atletas; famílias circenses, uma lona! melhor: circenses em cruzeiros, uma das formas atuais de maior ganho de dinheiro entre circenses no Brasil. Reparem: se antes palhaços iam divertir os poderosos em suas reuniões particulares, hoje vão a cruzeiros. O lugar onde um circense só tem condição de entrar, se for trabalhando. A questão da formação do circense é crítica porque exige a compreensão da essência do que significa ser circense e, sobretudo, porque esbarra na tentativa de delimitar essa prática por meio da tradição. Diversas interpretações reivindicam e buscam formalizar o circo, procurando unificá-lo sob determinados parâmetros, o que muitas vezes tensiona sua natureza plural e dinâmica. O que é preciso fazer para ser reconhecido enquanto arte?

Mas o que passa, de fundo, nessa questão é a intensa marginalização que o circo sempre esteve imerso. Ao passo que ‘’acolhe’’ os que não se encaixam, todos vivem à margem. No contexto de hoje, falta de editais públicos, de incentivo à fomentação da linguagem separadamente do teatro, o não pagamento a artistas ou atraso, não reconhecimento dos artistas de rua - que, por muitas vezes, têm seus vistos de permanência no país negados, etc. É interessante perceber como se estabelece uma relação sintomática com o risco: ele não apenas possibilita a criação do circo, mas também coloca em xeque a própria sobrevivência de quem escolhe ser circense no Brasil. O que sustenta o circo, então, desejo de permanecer e a constante possibilidade de queda.



Message from Larissa Mello zok  » 31 de octubre de 2025 » larissa_eu_2011@hotmail.com 

O documentário Circo É Circo mostra algo que vai muito além do espetáculo: ele apresenta o circo como um verdadeiro laboratório da potência humana. O que mais me fascina, e que o resumo destaca, não é só a lona ou o picadeiro, mas o que ele exige das pessoas. Duas coisas me marcaram muito: o risco e a originalidade.
O risco no circo é real, não é fingimento. Isso força o artista a ter uma conexão total com o corpo e a mente, uma presença absoluta. É exatamente o que a Palhaça Rubra menciona sobre o ser humano ter ’super-potências’. O circo é onde vemos essa potência em ação.
O outro ponto é a originalidade. A ideia de que no circo "copiar é um pecado" é poderosa demais. Isso significa que o circo valoriza a pessoa acima da técnica. Cada artista tem que achar seu próprio jeito de executar um número, e é por isso que ele é ’insubstituível’, como o texto diz. O circo se torna um espaço de pura expressão individual e de resistência contra a "cópia" que vemos em tantas outras áreas.
Parabéns pelo seu resumo! Você conseguiu capturar muito bem a essência e a diversidade do documentário, mostrando como o circo é, ao mesmo tempo, tradição e inovação. Sua explicação sobre as diferentes categorias (tradicional, itinerante e contemporâneo com as escolas) ajuda muito a gente a ver como o circo está vivo e sempre se adaptando.
O que mais me chamou a atenção na sua análise, e que eu também acho central, é a ênfase no risco e na originalidade. Você cita o Leandro Mendoza ("sem risco o circo, não é circo"), e eu ligo isso direto ao que a Palhaça Rubra diz sobre a "potência humana". O risco no circo é o que o torna tão humano. Não é só sobre o perigo; é sobre a superação, a confiança e a presença total que o artista precisa ter. É exatamente o "extraordinário acontecendo através do humano", como você concluiu tão bem.
Além disso, o ponto que você trouxe da Felicity Simpson, que "copiar é um pecado", é fundamental. Isso prova que o artista não é uma "peça" que pode ser trocada. Como você disse, ele é insubstituível. Adorei sua análise de como o circo é um espaço de resistência e transformação!



Message from Lílian Queiroz Cunha  » 29 de octubre de 2025 » lilian.queiroz.cunha@gmail.com 

Em primeiro lugar, saudações brasileiras aos autores do texto e á todos envolvidos com a produção do documentário sobre circo no Brasil. O interesse em escrever sobre essa temática surge em decorrência de um contexto propriamente brasileiro: a percepção da dificuldade do reconhecimento do circo enquanto linguagem própria dentro do país. Entre circo de lona, itinerante e contemporâneo, a produção textual e audiovisual destacam a incessante tentativa de firmar o circo como um lugar de compromisso, história e arte. A narrativa construída nos convida a pensar: o que define o circo? Em que lugar, no espaço, um circo pode ser considerado circo? Quão séria é essa brincadeira de ser circense? Seria o circo, afinal, uma bateria de originalidade? Sem lona, há circo? Com tecnologia, deixa de existir circo? O debate pode ser observado a partir de diversos pontos, carregando em si aspectos importantes sobre a linguagem circense em seus termos essenciais/tradicionais/fundamentais e, ao mesmo tempo, permite discussões sobre o fazer circense nos tempos atuais.

Técnica, tradição, trabalho, teimosia, tônus muscular, tecnologia, trapézio. Marginalização. Risco. Sobrehumano. Virtuosi (Lona família) O lugar dos sem lugar! Os que divertem a ‘’corte’’ e riem da condição humana.

Rua, violência, luta.

Quantos significados esses significantes podem assumir? Eu respondo! Contorção, acrobacia aérea, palhaçaria, equilíbrio, malabarismo.. o que você pode fazer? De fato, não importa se é dança, teatro ou circo. A linguagem se torce, desliza e substitui. Não esqueçamos nunca que o tecido acrobático surge de alguém que se imagina pendurado em uma cortina gigante. E que o palhaço se expõe na tentativa de dialogar com alguma viv’alma. ‘’Ao menos uma outra viv’alma que tenha voltado para casa igual a ele, perdido igual a ele’’. E a televisão, o abraço da lona com a tecnologia? o mundo deixou de ser só local. Pela primeira vez, o sertão via o litoral, e o povo via o mundo. O circo é um caminho ao impossível e por isso permite o desvio, contorna o que não se simboliza.

‘’Seja marginal, seja circense!’’ Está estampado na camisa de diversos circenses brasileiros espalhados pelo mundo como forma de identificação e resistência. É curioso ver o quanto essa pequena afirmação nos conta sobre a história do circo: com heranças romanas, o circo nasce em meio a brigas de gladiadores, apresentações com animais, arrastando as mais disformes aparências humanas e excêntricas capacidades com o corpo para o centro de uma arena, onde se separava a humanidade por classes sociais. Ao observar o efeito de Roma sobre a Grécia, é possível ver a passagem de narrativas ‘’intelectuais’’ caminharem com toda força em direção ao ‘’corpo’’, ou seja, a fala vem pelo corpo - endossamento da mímica, pantomima. O que isso implica no circo? O apreço pela técnica, virtuosi em circo e, para tanto, o caminho em direção ao máximo que um corpo consegue - o limite de articulações, de força, de tempo de equilíbrio, de manejo da maior quantidade de materiais, etc. Ultrapassar o limite é a brincadeira do circo. Esticar as capacidades humanas, ir além de nossa condição, experimentar uma certa ‘’sobrehumanidade’’. É também nesse ponto que o risco aparece: como ultrapassar limites sem morrer, adoecer ou se machucar? Como ultrapassar o limite da intelectualidade grega? Qual o risco de bancar uma arte sem a pretensão, necessariamente, de diálogos profundos? Pão e circo! O público na arena vendo humanos morrendo em brigas contra animais, o oferecimento de ‘’entretenimento’’ do governo para desviar a atenção de outros assuntos importantes para a ‘’pólis’’. Há algo mais profundo e humano do que a violência? Existe algo mais político do que aquilo que se diz apolítico?

O circo, no Brasil, tem pouca organização acadêmica e o incentivo governamental se mostra insuficiente para o desenvolvimento e sustento da linguagem enquanto própria. Os artistas do circo vivem o paradoxo de buscar afirmação, enquanto reconhecem a instabilidade da linguagem que os sustenta. A questão escorrega por diversos campos: sem essa ‘’organização formal’’, qual é a organização possível? Escolas de circo; circenses não como artistas, mas como atletas; famílias circenses, uma lona! melhor: circenses em cruzeiros, uma das formas atuais de maior ganho de dinheiro entre circenses no Brasil. Reparem: se antes palhaços iam divertir os poderosos em suas reuniões particulares, hoje vão a cruzeiros. O lugar onde um circense só tem condição de entrar, se for trabalhando. A questão da formação do circense é crítica porque exige a compreensão da essência do que significa ser circense e, sobretudo, porque esbarra na tentativa de delimitar essa prática por meio da tradição. Diversas interpretações reivindicam e buscam formalizar o circo, procurando unificá-lo sob determinados parâmetros, o que muitas vezes tensiona sua natureza plural e dinâmica. O que é preciso fazer para ser reconhecido enquanto arte?

Mas o que passa, de fundo, nessa questão é a intensa marginalização que o circo sempre esteve imerso. Ao passo que ‘’acolhe’’ os que não se encaixam, todos vivem à margem. No contexto de hoje, falta de editais públicos, de incentivo à fomentação da linguagem separadamente do teatro, o não pagamento a artistas ou atraso, não reconhecimento dos artistas de rua - que, por muitas vezes, têm seus vistos de permanência no país negados, etc. É interessante perceber como se estabelece uma relação sintomática com o risco: ele não apenas possibilita a criação do circo, mas também coloca em xeque a própria sobrevivência de quem escolhe ser circense no Brasil. O que sustenta o circo, então, desejo de permanecer e a constante possibilidade de queda.



Película:Circo é... Circo

Título Original:Circo é... Circo

Director: Daniela Cucchiarelli

Año: 2015

País: Brasil

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